Tudo terá começado quando o Homem começou a explorar a Natureza em busca de novos alimentos. Por acidente, terá encontrado plantas que, pelo facto de agirem sobre o Sistema Nervoso Central, se mostravam alucinogénias, estimulantes ou depressoras. Umas foram utilizadas para fins medicinais, com o desenvolvimento da Ciência e do próprio Homem. A utilidade de algumas resumiu-se a um consumo simplesmente recreativo.
Tempos houve em que o uso destas substâncias foi associado ao divino, ao transcendente e ao ultrapassar de barreiras. Eram usadas drogas para se realizarem rituais religiosos, celebrações e profecias. «Falava-se com os deuses» graças ao poder de alucinogénios como o haxixe, o ópio ou o álcool.
Umas mais leves que outras?
O facto de haver drogas «leves» e drogas «pesadas» é muito discutido pela opinião pública. A aplicação destes termos pode tornar o consumo de certas substâncias num mal menor. Isto só provoca uma popularização e uma massificação do consumo dessas substâncias.
O álcool e o tabaco, especificamente, são substâncias tão banalizadas que a sociedade perdeu o poder de marginalizar os seus consumidores, embora esta apatia pela questão esteja cada vez mais a desaparecer – um exemplo é a recente aplicação de leis antitabágicas em Portugal. No entanto, consumidores de outras drogas são frequentemente marginalizados no nosso país. É este o poder que têm as palavras. E agora? Haverá como parar o vício?
Álcool divino.
É relativamente recente esta nossa preocupação com as substâncias que ingerimos. O álcool é um exemplo de tal. Poucas substâncias podem regozijar-se de terem um defensor na elite divina da Grécia Antiga, assim como na do Império Romano. Baco e Dionísio eram os deuses do vinho no Olimpo e em Roma. Estes deuses das civilizações clássicas provaram que o álcool – independentemente de ser o do vinho ou não – assumiu um importante papel na evolução da humanidade. Outras manifestações religiosas que não a greco-romana também mostram este carácter particular do vinho. Do hinduísmo à civilização azteca, o álcool assume um papel importante. Até mesmo o cristianismo usa o vinho como símbolo do sangue do Filho de Deus.
No reino animal, muitos são os animais que encontraram o êxtase na sua busca por alimento. O Homem foi mais além e compreendeu o processo de fermentação, o que abriu o caminho para a produção de bebidas alcoólicas. Isto ainda no período Neolítico. Só no século XVIII surgiu outra substância com poder para fazer o mundo depender dela: o tabaco.
O tabaco: das Américas para o Mundo.
Trazido do continente sul-americano pelos exploradores espanhóis na Época dos Descobrimentos, o tabaco era já utilizado como alucinogénio pelos habitantes daqueles territórios. No «Velho Continente» o seu consumo foi popularizado a partir de Espanha, onde foi amplamente anunciado que esta substância possuía grandes poderes curativos.
A Coroa Espanhola conseguiu que a fama do tabaco se espalhasse pela Europa e monopolizou o seu comércio. Mais tarde a França e a Inglaterra juntaram-se à Espanha. Por esta altura, em que o tabaco era já amplamente conhecido, começaram a surgir personalidades que contestavam o seu consumo. Foi durante o século XVIII que começaram a cair as proibições ao tabaco, voltando este a ganhar força. Neste período o tabaco consumia-se em pó, por aspiração nasal, assim como enrolado ou recheado de triturados. Havia ainda quem o consumisse mascado, sendo fumado em cachimbos.
O cigarro surgiu quando, nas viagens marítimas, os marinheiros aproveitavam os restos de tabaco enrolando-os em papel. Dos conveses dos barcos, o cigarro alastrou-se às sociedades dos países com mais ligação com o mar como os da Península Ibérica e do Mediterrâneo.
Na segunda metade do século XIX, passou a ser anglo-saxão o monopólio do tabaco. Desde então que o seu consumo tem vindo a aumentar, sobretudo nos países em desenvolvimento.